AGORA É GREVE!

Depois de várias rodadas de negociação entre agosto e setembro, é os bancos dizendo não para todas as nossas reivindicações, agora não tem mais jeito, AGORA É GREVE!

NÃO COMPENSE AS HORAS DA GREVE - BANCOS NÃO SÃO ENTIDADES FILANTRÓPICAS


GREVE É DIREITO, NAO É DELITO!

18 julho, 2006

Um milhão e trezentos mil reféns

"UM PAÍS QUE AGE ASSIM, NÃO PASSA DE UM PAÍS TERRORISTA"

-As tropas nazistas na França costumavam tomar reféns e executar, em média, 50 deles para cada alemão morto.
Israel aprendeu a lição e superou seus mestres. Toda a população da Palestina – 1 milhão e 300 mil pessoas – são reféns, punidos indiscriminadamente pelas ações dos terroristas.
Qualquer um pode ser alvejado ou ter sua casa destruída por mísseis. Basta estar perto dosalvos da retaliação judaica.
A reação israelense vem sendo desproporcional. Em 2006, suas forças lançaram 8.500 mísseis contra Gaza, matando 90 palestinos, a maioria civis (diversas crianças), e ferindo 200, contra apenas 900 foguetes disparados pelos rebeldes. Foguetes feitos em casa, de pouca eficiência, pois não fizeram uma única vítima judaica. Mas não vem ao caso, conforme o primeiro-ministro Ehud Olmert: "As vidas e o bem-estar dos residentes de Sderot são mais importantes do que a morte de dezenas de palestinos inocentes" (Associated Press). Essa rotina tornou-se agora mais dramática.
No começo do mês, uma lancha militar israelense, vingando mais um inócuo ataque de foguetes domésticos, disparou mísseis contra uma praia e assassinou 8 pessoas, inclusive uma família que fazia um piquenique.Em resposta, um comando palestino independente atacou um posto militar, matando dois soldados e raptando um cabo. Para soltá-lo, exigiu a libertação de todas as mulheres e menores de idade presos em Israel.
Como sempre, a reação foi violentíssima. Aviões destruíram pontes, agências do Correio, parte da Universidade Islâmica e a principal usina elétrica de Gaza. A população foi severamente punida. Sem energia, os hospitais não podem realizar operações, ameaçando a vida de muitos doentes. As estações de bombeamento de água também não podem funcionar. 750.000 palestinos estão sem água, nem eletricidade. E isso por 6 meses -o previsto para as reparações.
Todos os 20 mil habitantes da região onde estaria o soldado israelense raptado foram evacuados. Expulsos de suas casas para bem longe, encontraram uma cidadefantasma na volta
Mas o governo Olmert foi além. Sua força aérea bombardeou edifícios do Ministério do Interior, postos policiais e o próprio escritório do primeiro-ministro.
Mais grave, ainda, tropas do exército prenderam 8 ministros do governo palestino, 30 congressistas e 30 assessores. Nestas ações, Israel violou a torto e a direito as leis internacionais. O ministro das Relações Exteriores da Suíça acusou: "Ações das forças israelenses na sua ofensiva contra a faixa de Gaza violaram o princípio da proporcionalidade…e devem ser vistas como formas de punição coletiva, o que é proibido. Não há dúvida de que Israel não tomou as necessárias precauções requeridas pela lei internacional para proteger a população civil". Para John Dugard, observador de direitos humanos da ONU, Israel desrespeitou a maioria das normas da lei internacional de direitos humanos.
Mas o Conselho de Segurança da ONU, pressionado pelos Estados Unidos, omitiu-se. O Grupo dos 8 declarou-se "preocupado" com a situação, urgindo as partes à moderação... Os americanos repetiram o refrão "Israel tem o direito de se defender", ignorando que isso tem limites. Punições coletivas são expressamente proibidas pela Convenção de Genebra. Israel não costuma dar importância a essas proibições, mas, desta vez, exagerou. Será que Olmert foi tão longe somente para libertar um cabo? Não parece.Seu governo já declarou que não soltará as autoridades palestinas seqüestradas mesmo que o soldado seja entregue. Serão processados por supostos envolvimentos com o terrorismo.É atitude de quem busca a guerra, não a boa vontade da outra parte. A prisão, além de contrariar frontalmente o direito internacional, é injusta, pois os dirigentes do Hamas não foram responsáveis pelo seqüestro do soldado. Os autores são grupos radicais que não obedecem a ninguém. Claro, depois dos ataques a Gaza, o Hamas passou a apoiá-los.Tudo indica que o verdadeiro objetivo de Olmert é desestabilizar o governo do Hamas. Esse governo não concorda com sua proposta de um Estado palestino sem os assentamentos judaicos, que traria perda de território e controle pelo exército israelense das estradas que ligam Israel aos assentamentos afastados.
O Hamas exige a volta às fronteiras de 1967, tese apoiada por várias resoluções da ONU, coisa que Olmert jamais aceitará.No recente acordo entre o Fatah e o Hamas, ficou implícito o reconhecimento do Estado judaico. Nada mais impediria a aceitação do governo do Hamas como interlocutor para as negociações de paz. Olmert ficaria numa posição muito difícil ao negar a criação de uma Palestina nos termos que ele recusa, mas que são universalmente reconhecidos como justos.
Não foi coincidência que o ataque a Gaza tenha ocorrido imediatamente após o acordo Hamas-Fatah. Salvar o soldado raptado não passou de um falso pretexto. Fosse real, a ação do governo de Telaviv seria mais hábil, via negociações. A brutalidade da retaliação israelense visa radicalizar ainda mais o outro lado. Forçá-lo a reagir também com violência e abandonar a linha pragmática que se desenhava. O que Olmert menos deseja é que os moderados passem a dar as cartas no Hamas. Eles são seus principais inimigos, já que sua causa - dois países em paz, separados pelas fronteiras de 1967 – é incontestável. Fica muito mais fácil enfrentar os radicais, graças à tremenda superioridade militar e tecnológica do exército israelense.Sem água, sem eletricidade, sem hospitais, sem segurança, sem paz, 1 milhão e 300 mil reféns continuam a ser punidos e humilhados por algo que não fizeram. Israelense tem direito à defesa, dizem os americanos. E eles, os palestinos, têm direito a quê? * Luiz Eça é jornalista

Nenhum comentário: